terça-feira, 10 de junho de 2014

CANDOMBLÉ

    Assim como no passado, a religiosidade ainda, é muito importante nas regiões africanas de origem ioruba. Na américa, algumas religiões desenvolveram-se influenciadas pelas tradições iorubas, convivendo com práticas religiosas cristãs. Esse é o caso do candomblé, no Brasil, e da santeria, em Cuba.

    As religiões afro-brasileiras, foram constituídas a partir de tradições africanas trazidas pelos escravos. O candomblé é a religião dos orixás formada na Bahia, no século XIX, a partir de tradições de povos iorubás, ou nagôs, com influências de costumes trazidos por grupos fons, aqui denominados jejes, e residualmente por grupos africanos minoritários.

    O candomblé iorubá, ou jeje-nagô, como costuma ser designado, congregou, desde o início, aspectos culturais originários de diferentes cidades iorubanas, originando-se aqui diferentes ritos, ou nações de candomblé, predominando em cada nação tradições das cidades ou região que acabou lhe emprestando o nome: queto, ijexá, efã. Esse candomblé baiano, que proliferou por todo o Brasil, tem sua contrapartida em Pernambuco, onde é denominado xangô, sendo a nação egba sua principal manifestação, e no Rio Grande do Sul, onde é chamado batuque, com sua nação oió-ijexá.

    Outra variante iorubá, esta fortemente influenciada pela religião dos voduns daomeanos, é o tambor-de-mina nagô do Maranhão. Além dos candomblés iorubás, há os de origem banta, especialmente os denominados candomblés angola e congo, e aqueles de origem marcadamente fom, como o jeje-mahim baiano e o jeje-daomeano do tambor-de-mina maranhense.

    Foram principalmente os candomblés baianos das nações queto (iorubá) e angola (banto) que mais se propagaram pelo Brasil, podendo hoje ser encontrados em toda parte. O candomblé angola, embora tenha adotado os orixás, que são divindades nagôs, e absorvido muito das concepções e ritos de origem iorubá, desempenhou papel fundamental na constituição da umbanda, no início do século XX, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

    Hoje, todas essas religiões e nações congregam adeptos que seguem ritos distintos, mas que se identificam, nos mais diversos pontos do país, como pertencentes a uma mesma população religiosa, o chamado povo-de-santo, que compartilha crenças, práticas rituais e visões de mundo, que incluem concepções da vida e da morte. Terreiros localizados nas mais diferentes regiões e cidades interligam-se através de teias de linhagens, origens e influências que remetem a ascendências que convergem, na maioria dos casos para a Bahia, e que daí apontam, no caso das nações iorubás, para antigas e, às vezes, lendárias cidades hoje situadas na Nigéria e no Benim.





OS ORIXÁS- ORISSÁ



    Orissá ou orixá significa a luz da cabeça. Para os iorubás, os orixás são potências cósmicas que regem os poderes dos elementos da natureza. Elementos que constituem nosso organismo e todos os reinos da natureza e que tudo mantém e de onde tudo provem. O orixá é uma força pura, imaterial que atua em várias dimensões e se torna perceptível quando incorpora em um ser humano. São os regentes das energias do planeta e para entrar ou sair da Terra é preciso a autorização deles. Constituem hierarquias de elementais que zelam pela vida manifestada na Mãe-Terra. Eles adotam os seres humanos quando suas almas estão prontas para encarnar na Terra e os protegem vigilantes durante toda a existência.

    Os mitos, as lendas e definições dos orixás podem variar de região para região, mas todas as narrativas coincidem quanto a fé na atuação deles como divindades administradoras do equilíbrio e da preservação da vida no mundo terrestre. Divindades que estão encarregadas pelo Princípio Supremo, Olodumare, da manutenção de sua criação no Ilê, o mundo natural, e constituem a energia emanada da e pela Mãe-Terra para o Cosmo e vice-versa. Alguns seres, devido as suas qualidades morais e habilidades, podem se tornar orixás; nesses casos, geralmente escolhem um descendente como veículo para se manifestar. No Brasil o culto é prestado a 16 orixás prioritários; segundo os iorubás, eles são os diferentes aspectos da divindade única. Alguns deles excepcionalmente podem ser manifestações desses primordiais, e ter sido seres humanos que atingiram o estado divino em vida, e por amor retornam para ajudar sua família e comunidade.


    No Brasil, os iorubás e sua cultura predominam na estrutura das cerimônias, na mitologia e metafísica, embora outras etnias ainda permaneçam fiéis e atuantes, cultuando suas crenças, como o culto aos Egungun (os ancestrais) que acontece principalmente na Ilha de Itaparica, na Bahia. Os orixás são arquétipos universais, personificam virtudes e valores fundamentais desta tradição. Eles constituem os fundamentos do caráter desse povo que transmite sua sabedoria oralmente atravez das lendas contadas com reverência e amor de coração a coração, da boca amorosa para o ouvido amoroso. Para os iorubás, a Mãe-Terra é um ser vivo e sagrado. Plantar, perfurar um poço para obter água limpa, ou outro tipo qualquer de intervenção no solo do planeta, é precedido de um ritual para obter permissão e perdão pela agressão feita ao corpo da Mãe-Terra. Eles agradecem cantando e dançando pela obtenção da licença e pelos resultados positivos das suas ações. Os orixás estão presentes no cotidiano dos fiéis, no trabalho e nos fatos mais corriqueiros da vida. Simbolicamente, a morada e regência de cada orixá é um elemento e uma qualidade, um valor, e cada expressão da natureza é compreendida como um sinal mágico. Para os iorubás a natureza oferece os indicadores abençoados pelos orixás. Cada orixá tem sua cor, égide, pedra, dia da semana, dança, canto, saudação, animal consagrado, comida, objetos de oferenda, filiação, função e lugar de poder.



ORIXALÁ ou OBATALÁ - Divindade da criação, o nome da divindade suprema. Também conhecido como Olodumare ou Orumilá.


IFÁ - O senhor dos mistérios divinatórios. O porta-voz de Orumilá, ou Olodumare, o deus supremo, que está inacessível aos homens e fora da compreensão humana. Ifá é consultado e Olodumare (ou Orumilá) revela seus desígnios através do “opelê” um tipo de rosário divinatório que somente os sacerdotes podem consultar. As sacerdotisas consultam os búzios cujo jogo divinatório é regido por Oxum, uma deusa. Outro nome do deus supremo é Olorun, o senhor dos céus.


EXU – O mensageiro dos deuses. Ele é o traço de união entre os homens, os orixás e Olorum. Exu é assistente direto do deus supremo e assessora Ifá nas consultas ao “opelê”, e no jogo de búzios inspira a ialorixá (sacerdotisa) e leva as consultas diretamente aos orixás, trazendo para ela as respostas dos deuses. É o mensageiro entre as dimensões mundanas e sagradas e o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas. É o intermediário entre os seres humanos e os deuses e por isso é homenageado em primeiro lugar nos cultos. Ele garante que os obstáculos para o bom andamento das cerimônias sejam removidos. Esse orixá teve por parte dos colonizadores uma interpretação incorreta que permanece ainda hoje repercutindo negativamente e prejudicando a compreensão e aceitação desta tradição. Ele não é a incorporação do mal, pois a noção do diabo, da corporificação do mal não existe entre os iorubas. Exu é a força que cria novas ordens e que abre caminhos para possibilidades.


OXOSSI - O senhor das florestas, o provedor da caça, pesca e da fartura de modo geral. É o orixá da generosidade, da amabilidade, companheirismo e determinação. Como Odé, um dentre seus aspectos mais misteriosos e secretos, é o oculto, o conhecedor das raízes e dos segredos das profundezas da Terra. Oxossi é a força que orienta a organização da vida comunitária e a produção agrícola nas aldeias. Oxossi agrega as pessoas e confere qualidade a convivência comunitária.


OGUM - O senhor da guerra, guerreiro do divino combate interior entre o certo e o errado, a luz e as trevas. Ajuda na superação dos defeitos comportamentais e dos vícios prejudiciais a saúde e a elevação do espírito. Irmão de Exu, abre caminhos para o novo, vence demandas contra as negatividades e auxilia na realização de projetos, eliminando dificuldades eventuais. Ogum é temperamental e intempestivo e tem como principal desafio vencer a si mesmo.


OXUM - A deusa-mãe das águas doces, a Grande Mãe. Sua energia de potencializa nas nascentes e cachoeiras. Éo princípio feminino que se apresenta como cuidado amoroso, beleza, graça, harmonia, doçura, prosperidade e abundância. Promove a fartura e a fertilidade e protege a maternidade e as crianças. É também a deusa do amor e do ouro.


IEMANJÁ - A deusa-mãe das águas salgadas. Sua energia se potencializa nos mares e oceanos. É o princípio feminino que se apresenta como beleza, impetuosidade, poder, mutabilidade, exuberância, acolhimento, fascínio, imprevisibilidade, criatividade e força transformadora e renovadora da vida. Protege os homens do mar, a pesca, a família, o amor entre os casais. É a deusa que reina desde as profundezas e dos mistérios abissais.


OXALÁ - O orixá responsável pela totalidade da criação de Olodumare. A ele foi confiada a tarefa de formar a humanidade. Ele representa a sabedoria dos mais velhos, a ponderação, a pureza, o respeito, a paciência e a perseverança. Protege os puros de coração. Seu elemento é o éter. É um orixá fun-fun, ou seja tudo que se refere a ele e é a ele oferecido tem que ser branco e imaculado.


XANGÔ - A realeza, o poder de decisão, a firmeza e a força do caráter. É o senhor da justiça e da liderança a serviço do Bem. Rege os negócios e os assuntos de estado. Protege os governantes e líderes em geral. Manifesta-se na natureza como os trovões e raios, símbolos do seu poder. Xangô é a beleza masculina e sua força física e moral atrai as mulheres de maneira irresistível. Seus filhos espirituais trazem suas características e expressam suas qualidades.


OSSAIN - O Senhor das Folhas. Manifesta-se como o poder dos sons da floresta e principalmente como o poder que se oculta nas ervas e folhas sagradas e curativas. Não há candomblé sem folhas e para que elas permaneçam vivas e poderosas Ossaim precisa ser louvado. É o senhor da medicina que cura o corpo, a mente e a alma. É um dos mais misteriosos dentre os deuses iorubá.
OBALUAIÊ - O Senhor das doenças e da cura. Ele revela a fragilidade humana, a instabilidade e a necessidade dos seres vivos de estar em harmonia com as forças da natureza para permanecer saudável. Ele se apresenta também como o curador do físico e das moléstias em geral, e das afecções de pele em especial. É o orixá protetor e provedor do equilíbrio que gera a saúde. Quando irado, provoca epidemias e morte. Ele tem poder sobre a vida e a morte. Seu nome significa O Senhor da Terra, Shapanam.


OXUMARÊ - É o deus da dualidade e da alternância entre os opostos na manifestação da vida. Ele é o sustentador do equilíbrio das forças naturais e da renovação. É representado pelo arco-íris que liga o céu e a Terra. Um dos seus símbolos é a serpente enrolada que ao se desenrolar une o profano e o sagrado. Oxumarê ensina a humanidade a jogar o jogo da vida, a lidar com as perdas e os ganhos. É também o orixá portador de alegria e transformação.


LOGUNEDÊ - O Senhor da síntese – a complementaridade. Manifesta-se como homem e como mulher alternadamente. Durante seis meses é feminino e nos outros seis meses é masculino. Ele representa a união das polaridades, homem e mulher, certo e errado, luz e trevas, bem e mal. Corpo e espírito. ele é a superação dos pares de opostos.


IROKO - O Senhor de todos os aspectos do tempo. Apresenta-se como uma árvore frondosa, a gameleira branca. Seus filhos o homenageiam com devoção, mas este orixá não incorpora nos fiéis; ele permeia tudo, cria e destrói todas as coisas. A gameleira tem raízes profundas na Terra, mas se dirige ereta para o céu; ela nos ensina que durante seu tempo de vida o ser humano deve estar na Terra sem se esquecer do céu de onde se origina. Iroko ensina também o uso adequado do tempo mostrando que o tempo não passa, é eterno; quem passa somos nós, as coisas e a natureza.


INHASÃ, OYÁ – A rainha de OYÓ, a senhora dos ventos. O princípio feminino transgressor do estabelecido e provedor da coragem, autoconfiança, auto-estima, dedicação, também da iniciativa e estratégia de superação dos obstáculos aos propósitos grandiosos. É a deusa que conduz as almas dos mortos do sofrimento à paz eterna e afasta os espíritos perturbadores. Dançando freneticamente, agitando com as mãos um rabo de leão, ela livra seus protegidos dos males do espírito.


OBÁ - A divina e destemida guerreira defensora das causas nobres. Combate em favor dos menos favorecidos pela sorte. Os rejeitados, os traídos e humilhados contam com a proteção de Obá, a poderosa deusa justiceira. É o feminino destemido que reivindica igualdade de direitos entre homens e mulheres. Manifesta-se nas águas revoltas da confluência entre os rios.


NANÃ BURUKU ou BURUQUÊ - O princípio feminino que se apresenta como a anciã sábia, o poder ancestral que engendrou as formas humanas amassando o barro com seus próprios pés. A senhora das águas profundas e dos pântanos. É o mais alquímico dos orixás; representa o poder transmutador da natureza. Ela é um orixá originário da idade anterior ao ferro e cultuada principalmente no Daomé.


IBEJI – Orixás-crianças. Regem a alegria, a descontração, a espontaneidade, a leveza, o entusiasmo, a capacidade de se deslumbrar, a curiosidade e a vontade de aprender. Manifestam-se nos adeptos como a criança interior de cada um dos seres humanos.

Olodumare – O Deus Supremo


    A religião dos orixás é um culto às forças cósmicas e telúricas; é uma forma de culto familiar e comunitário. Embora seja basicamente uma religião tribal e da natureza, também reverencia os espíritos dos ancestrais que por suas qualidades morais foram divinizados e integrados às hierarquias de elementais que constituem as energias do planeta, possuindo por isso um axé (força mágica) poderoso. É uma religião de aceitação e tolerância, onde não existem preconceitos, dogmas, proselitismo ou doutrinação. 

    Para os iorubás, acima dos orixás está Olodumare, o deus supremo, que paira sobre tudo e todos e contém em si mesmo tudo e todos. Esse deus representa o poder infinito do universo; é inacessível, e está muito além da compreensão humana. Não é cultuado nem incorpora nos adeptos, mas é o mais respeitado, pois é o criador inacessível de tudo que existe, inclusive dos orixás. 

    Quando resolveu criar a humanidade, Olodumare criou primeiro os orixás e a eles confiou a supervisão de sua obra. Portanto, para chegar a Olodumare é aos orixás que os homens devem recorrer, reverenciar e dirigir suas preces e oferendas. 

    Olorun é o nome dado ao governante do “orun” que é uma dimensão intermediária entre o universo superior de Olodumare e a Terra (Ilê). Orun é um lugar muito sagrado e reverenciado porque é lá que habitam as almas dos mortos. No orun as almas aguardam a hora de voltar periodicamente ao mundo dos vivos para renascer. 

    Para os iorubás tanto a vida quanto a morte são etapas sagradas e ao oferecer sacrifícios aos seus orixás eles consagram tanto a Terra quanto o céu, afirmando essa crença. Eles acreditam que os animais imolados e ofertados durante o sacrifico têm a oportunidade de evoluir como energia consciente. 

    Como vemos, a mitologia desta tradição é altamente sofisticada e sutil na apresentação dos seus mitos, rituais e arquétipos.

REFERÊNCIA:
Mitologia comentada. Disponível em: <http://mitologiacomentada.blogspot.com.br/p/ioruba.html> Acesso em 10 de junho de 2014.

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